Cursinho preparatório para policiais ensina como estuprar cadáveres de mulheres e tortura
- ADUR

- 7 de dez. de 2023
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No início desta semana, viralizou na internet um vídeo do ex-policial, dono e professor de um cursinho preparatório para carreira de policiais militares, Evandro Guedes, ensinando como estuprar um cadáver. Na gravação, ele declara:
“Aí você passa num concurso de técnico de necropsia de nível médio. Aí você tá lá e vem uma menina do 'Pânico na TV' morta. Meu irmão, com aquele rabão e ela enfartou de tanto tomar bomba, enfartou na porta do necrotério. Duas horas da manhã, não tem ninguém. Você bota a mão: 'Uhmmm, quentinha ainda'. O que você vai fazer? Vai deixar esfriar?”.
Além da chocante declaração, o ato narrado é crime caracterizado como vilipêndio de cadáver, tipificado no Artigo 212 do Código Penal. O crime consiste em tratar de forma vexaminosa o corpo, imagem ou cinzas de uma pessoa morta. Evandro sabe disso, mas desdenha do fato. No vídeo, ele declara:
“Meu irmão, eu assumo o fumo de responder pelo crime. <...> É crime? É, você mexeu com a honra do cadáver, o sujeito passivo do crime é o familiar da vítima. <...> Tem que responder pelo crime, mas a pena é desse tamanhozinho, vale à pena responder”.
O vídeo repercutiu nas redes sociais e causou comoção. Umas das reações mais contundentes foi da atriz, cantora e compositora, Zélia Duncan, no qual ela questiona “O estupro de um corpo que já não tem vida, deixa de ser estupro? Um estupro chamado de vilipêndio, é menos sórdido e criminoso por isso? Por conta de uma palavra? Quanto vale, quanto valeu a vida de uma mulher, que depois de morta vira só o objeto que sempre foi em vida, mas agora inanimado, quanto vale?”
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O vídeo de Evandro Guedes foi incluído em um inquérito civil em andamento na 12ª Promotoria de Justiça de Cascavel, no oeste do Paraná, onde o curso tem sede.
A aula de Evandro Guedes aconteceu no mesmo cursinho em que o policial Ronaldo Bandeira, servidor da PRF em Santa Catarina, ensina como fazer uma 'câmara de gás' em uma viatura. Durante a aula, divulgada amplamente em maio de 2022, ele narra um caso em que teria usado gás lacrimogêneo no camburão. “A gente estava na parte de trás da viatura, ele ainda tentou quebrar o vidro da viatura com chute. Ficou batendo o tempo todo”, declarou. Sorrindo, ele acrescenta: “A pessoa fica mansinha. Daqui um pouco só escutei: ‘Vou morrer! Vou morrer’. Aí eu fiquei com pena, cara. Abri
assim: ‘Tortura!’, e fechei de novo”.
Com a divulgação das imagens, a corregedoria da Polícia Rodoviária Federal apurou os fatos e acionou o Ministério da Justiça para demitir o policial Ronaldo Bandeira em um processo administrativo disciplinar. A decisão final sobre a exoneração está nas mãos do Ministério da Justiça.
O procedimento narrado por Bandeira na aula do cursinho é o mesmo utilizado no assassinato de Genivaldo Santos, que morreu no dia 25 de maio de 2022, em Umbaúba, no sul do estado de Sergipe, após uma abordagem de policiais rodoviários federais.
Abordado pelos agentes por não usar capacete enquanto dirigia uma motocicleta, os vídeos divulgados em redes sociais na ocasião mostram um dos agentes tentando imobilizar Genivaldo com as pernas no pescoço dele e, em seguida, sendo algemado e tendo os pés amarrados. Em seguida, Genivaldo é colocado no porta-malas do carro da PRF. Os policiais jogam gás e fecham o compartimento.
Genivaldo se debate, com os pés para fora do porta-malas, enquanto os policiais pressionam a porta. Os policiais envolvidos na morte de Genivaldo respondem por crimes de homicídio triplamente qualificado e tortura-castigo. Eles estão presos enquanto aguardam julgamento.


