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Entrevista com a professora Jaqueline Gomes de Jesus

  • Foto do escritor: ADUR
    ADUR
  • 24 de jan. de 2022
  • 3 min de leitura

24 de janeiro de 2022Imprensa ADUR-RJ

  🗓️ No próximo sábado, dia 29 de janeiro, é o Dia Nacional da Visibilidade Trans. A data marca a importância do reconhecimento das lutas pelo fim da violência contra pessoas travestis e transexuais, a mobilização pela garantia de seus direitos, de suas pautas de resistência, de celebração de vida, potência e produção de pessoas trans. 🏳️‍⚧️ Por isso, ao longo desta semana, a ADUR-RJ trará entrevistas com pessoas trans que existem e resistem se mobilizando, lutando pela ampliação do acesso de políticas públicas voltadas para os direitos das pessoas trans, ocupando espaços e produzindo avanços na construção de uma realidade mais respeitosa, diversa e plural para todas, todos e todes. 👩🏽‍🏫 A primeira entrevistada da semana é a professora Jaqueline Gomes de Jesus, que se descreve como uma carioca nascida em Brasília. Ao longo de sua trajetória acadêmica, Jaqueline pesquisou temáticas como representações sociais do trabalho escravo no Brasil contemporâneo, política e identidade nas paradas do orgulho LGBT, trabalho e movimentos sociais no Brasil. Atualmente, Jaqueline é Professora de Psicologia do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ); Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ensino de História (ProfHistória) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e do Programa de Pós-Graduação em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva (PPGBIOS/FIOCRUZ). Com relação aos desafios enfrentados por pessoas trans nos espaços acadêmicos, a professora frisa que não pode ser feita uma generalização, porque as experiências de cada pessoa são cheias de particularidades relacionadas ao seu contexto. “Não deixa de haver um eixo comum da transfobia que são mecanismos estruturais que impedem pessoas trans de chegarem nas instituições de ensino e se manterem na academia, de alcançarem cargos, por exemplo, de professores. A transfobia, no Brasil particularmente, estimula essa dificuldade de pessoas cisgêneras reconhecerem pessoas trans como colegas de trabalho, como elas, que podem dar aula, que podem pesquisar. Existe uma tentativa de inferiorização constante, de não-reconhecimento da identidade, do pensamento, que vem do histórico de objetificação. Isso é muito comum”, destaca. A professora Jaqueline explica que muitos destes recortes envolvem outras opressões estruturais, como o racismo, e por isso, é sempre preciso olhar as marcações presentes nestes desafios, que definem quais pessoas serão mais lidas, referenciadas, indicadas, etc. “Quando se fala de pessoas trans, a gente não está falando de um bloco monolítico de pessoas, mas sim de pessoas com uma enorme diversidade de gênero, de orientações sexuais, de identidades étnico-racias, de origens, de classe, de todas as intersecções possíveis, porque são humanos (...) É um desafio não fazer uma hierarquia de opressões, mas entender que essas opressões interagem e que existem particularidades de identidade dos próprios sujeitos, que são únicos, marcados por esses eixos comuns da transfobia, do racismo, do machismo, etc”, pontua a docente. A professora Jaqueline ressalta que na academia há uma dificuldade presente de ser referência enquanto pesquisadora, pesquisador trans, bem como uma falta de valorização enquanto professor, professora trans, principalmente em relação aos colegas. “Em geral, quando pensam em academia, no ensino ou escola, as pessoas pensam mais em estudantes, mas não, a grande dificuldade não é com os estudantes. Não vejo em geral os colegas reclamando disso. A grande dificuldade é realmente com os colegas professores, diretores e todo o corpo que por mais que tenha escolaridade, não teve formação cidadã”, evidencia. Com relação às perspectivas de futuro, Jaqueline acredita que não é possível avançar o suficiente sem ações afirmativas necessárias e específicas para as pessoas trans que estão no ensino superior, na academia. “Enquanto não tivermos ações afirmativas, reserva de vagas, cotas para docentes trans, não vai mudar esse quadro. As pessoas vão continuar vendo docentes, pessoas trans, como uma ou outra exceção, em uma lógica bem neoliberalista de primeiro lugar, de único, uma lógica muito simplista que tenta focar no valor da exceção para esquecer a regra da exclusão.Então, a gente precisa de mais acesso de docentes pesquisadores trans, isso se dá por ações afirmativas. Não tem outro caminho. Porque senão, a lógica transfóbica é excluir pesquisadores, docentes trans com argumento de que não tem pontuação, de que não tem bolsa do CNPq, que não conseguem produzir o suficiente, mas não abrem espaço para que possam produzir, possam participar de grupos de estudo, possam publicar nas revistas. Isso são ações afirmativas e precisamos principalmente para termos mais e manter mais docentes e pesquisadores trans na academia”, conclui ela.

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